Olá, pessoal, tudo bem?
Hoje a Oficina retorna abordando um assunto muito importante para nós, Ponto de Equilíbrio. É através dele que sabemos à quantas anda nosso negócio, se precisamos alavancar as vendas para cobrir nosso Custo Fixo (CF), conhecer a partir de quantas unidades produzidas e vendidas começamos a obter lucro, e assim, direcionar quais serão as decisões a serem tomadas.
Antes de continuar preciso dizer porque precisei dessa lacuna aqui na Oficina. Eu fiz uma prova para trabalhar no mesmo local onde pretendo fazer mestrado, então, precisava de uma folguinha para passar as vistas em pelo menos algum assunto que eu conseguisse estudar para fazer essa seleção, afinal, trabalhar e estudar do mesmo lugar é uma economia de tempo enoooorrrmmmeeee.
Prosseguindo com o assunto de hoje...
Quando dividi o processo produtivo em quatro etapas foi para demonstrar claramente que em todas elas existem gastos que superam os materiais usados e, por isso, precisam estar cobertos pelo preço de venda praticado.
No post anterior, Etapa IV - Cálculo de Custos Aplicados a Brigadeiros, coloquei umas observações no final do texto chamando a atenção para a necessidade de desmembrar do valor apresentado como Custo Fixo (CF) as Horas Trabalhadas (HT) e integrá-las ao cálculo na base usada como GAD ( Gastos Administrativos e Diversos), isso porque o valor cheio altera diretamente a referência do Ponto de Equilíbrio, porém era preciso demonstrar as dificuldades que nos deparamos quando formamos preços dos produtos que fabricamos, principalmente feitos em casa, os quais inúmeras vezes acabam sendo comercializados abaixo (em alguns casos bastante abaixo) do preço mínimo necessário.
Assim, os valores reais de Ana após excluídos os valores equivalentes às Horas Trabalhadas das Etapas I, II e III, são:
Remuneração de Trabalho = R$ 1487,50 (CF)
Parcela de Microempreendedor Individual = R$ 45,00 (CF)
GAD = R$ 1532,50 (CF que equivale a soma das duas parcelas acima) + R$ 0,20 acrescido por unidade como Custo Variável (CV)
Capital Investido = R$ 684,90
Lucro Esperado = 22,4%
Margem de Contribuição Unitária (MCu) = R$ 1,47*
Percentual de Margem de Contribuição = 58,8% ou 0,588
Margem de Desconto por Unidade contando o lucro = R$ 0,56
Custo Fixo por Unidade considerando o Mei = R$ 0,92
Custo Fixo por Unidade desconsiderando o Mei = R$ 0,89
Custo Variável por Unidade (CVu)= R$ 1,03
Custo do Produto por Unidade (CFu + CVu + %Perda) = R$ 1,96
Custo do Produto por Unidade sem o Percentual de Perda = R$ 1,94
Percentual para Cobrir Perdas = 2%
Percentual (%) Equivalente ao Custo Variável = R$ 0,412 ou 41,2% ( o mesmo que % de CV)
Projeção Mensal de Produção e Venda de Ana = 1680 brigadeiros por mês
Preço de Venda por Unidade = R$ 2,50
Custo de Oportunidade de Ana = Remuneração de Mercado que ela usou como base, no caso R$ 1487,50
Capital Investido = R$ 684,90
Parcelas de Depreciação (Dp) = R$ 3,50
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*Obs.: Margem de Contribuição Unitária (MCu) é a diferença que sobra do preço de venda abatido o custo variável do produto. Ou seja, no caso de Ana ficou assim: MCu = R$ 2,50 - R$ 1,03 = 1,47. O seu percentual é encontrado dividindo-se a MCu pelo PV (Preço de Venda), e nesse caso, equivale a 58,8%.
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Relembro que os Custos Fixos de Ana foram compostos apenas pela Remuneração do Trabalho dela e o Mei**, caso ela decida "se formalizar". Caso Ana tivesse um sócio com peso de 50% sobre o negócio (meio a meio), bastava dobrar o valor desse custo fixo sobre as fórmulas abaixo. Assim, quanto maior o Custo Fixo, maior o Ponto de Equilíbrio.
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** Obs:. Se preferir, pode calcular pelo valor corrigido no Post 2/6 Cálculo de Custos Aplicados a Brigadeiros
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Se você tiver dúvidas sobre as diferenças entre Custo Fixo e Custo Variável, sugiro que leia o post no qual tratei sobre as definições clicando AQUI.
"Joiceeeee, como é que eu faço o desmembramento das Horas Trabalhadas???"
Lembra-se que cada etapa tinha os valores das horas trabalhadas? É só excluí-las e calcular do mesmo jeito, assim:
Etapa I = fica apenas o custo da passagem;
Etapa II e III = Retira somente as parcelas equivalentes da remuneração e o restante calcula da mesma forma;
Etapa IV = Retira do GAD a parte Variável e, em vez de atribuir o valor de R$ 270,48, o valor a ser colocado será o da remuneração cheia R$ 1.487,50, e se desconsiderar o Mei, ficam R$ 1.532,50.
As fórmulas são as seguintes:
A Geralzona
"A geralzona", cujo resultado da conta exprime o valor do Faturamento Bruto que você deverá fazer no mês para cobrir todos os seus Custos Fixos dentro do preço de venda que você trabalha para seu produto é:
Q = [CF/(100 % - % de CV)] x 100
Onde:
Q = Ponto de Equilíbrio;
CF = Custo Fixo, e
% de CV = Percentual (%) Equivalente ao Custo Variável, é obtido dividindo o valor equivalente ao Custo Fixo por Unidade pelo valor do Preço de Venda também por Unidade. Você vai achar um valor decimal, para encontrar o equivalente percentual, basta multiplicar por 100, que é o mesmo que dizer 1 ou 100%, como já está na fórmula acima, ok?
Substituindo os valores de Ana equivalentes na fórmula acima, temos:
Q = [1.532,50 / (100 - 41,2)] x 100 =
Q = [ 1.532,50 / 58,8] x 100 =
Q = 26,062925... x 100 =
Q = 2.606,29 de faturamento mensal bruto no mínimo.
Para saber a quantas unidades equivale esse valor, basta dividi-lo pelo Preço de Venda por Unidade (PVu), no caso de Ana, R$ 2,50, obtendo quase 1.043 unidades.
Sabe o que isso significa? Que a projeção de Ana para 1680 unidades produzidas e vendidas por mês cobre com folga o Ponto de Equilíbrio superando em 637 unidades! Ou seja, após trabalhar os números de Ana alocando as Horas Trabalhadas no local devido, percebe-se que, quando ela conseguir firmar esse volume, o negócio dela estará dando um lucro bruto razoável.
"Então ela já poderia contratar um funcionário, Joice?"
Bom, digamos que o funcionário de Ana receba o mesmo valor que ela. Vou considerar assim para não ter de recalcular todas as obrigações legais que são impostas ao empregador, ok?
1.532,5 x 2 = 3.065,00
Q = [3.065/(100 - 41,2) x 100 =
Q = [ 3.065/58,8] x 100 =
Q = 52,1259... x 100 =
Q = 5.212,59
5.212,59 / 2,50 = 2.085 unidades deveriam ser vendidas por mês para poder cobrir os custos fixos.
Percebeu que, apesar de 637 unidades representarem uma folga razoável ela não cobriria duas pessoas trabalhando? Numa proporção direta significa que, para cada pessoa a mais, um volume igual ao que remunera somente Ana deve ser aumentado à produção e venda.
Demais Fórmulas para Calcular Outros Pontos de Equilíbrio
O Ponto de Equilíbrio também pode ser visto por mais três óticas diferentes que abordam formas de cálculo mais preciso. São eles:
1 - Fórmula para Calcular o Ponto de Equilíbrio Contábil (Qc)
O Ponto de Equilíbrio Contábil somente considera quanto a Margem de Contribuição Unitária (CVu)colabora para cobrir os Custos Fixos. Equivale à soma do Custo Fixo por Unidade mais a Margem de Desconto com Lucro. O resultado obtido já equivale ao total de unidades a serem produzidas e vendidas. Usa-se a seguinte fórmula:
Qc = (CF / MCu) x PV,
Onde,
Qc = Ponto de Equilíbrio Contábil
CF = Custo Fixo
MCu = Margem de Contribuição Unitária que é representada em valor em reais
PV = Preço de Venda.
PV = Preço de Venda.
Substituindo os itens acima pelos valores de Ana, temos:
Qc = 1.532,50 / 1,47 = 1.043 unidades/ mês aproximadamente, x R$ 2,50 = R$ 2.606,29.
Observou que o resultado é o mesmo obtido pela primeira fórmula? Pois é. Isso ocorre porque aquela diferença no denominador da primeira fórmula, aqui chamada de "Geralzona", equivale exatamente ao valor percentual da Margem de Contribuição Unitária de Ana: 1,47/2,50 (MC/PV) = 0,588 x 100 = 58,8%.
2 - Fórmula para o Calcular o Ponto de Equilíbrio Econômico (Qe)
Agora, se você deseja conhecer o Ponto de Equilíbrio Econômico, que é aquele que considera o seu Custo de Oportunidade (Aquilo que você poderia estar recebendo se você tivesse feito outra coisa com o dinheiro ou "força de trabalho"), a fórmula é:
Qe = (CF + COp)/MC,
Onde,
Qe = Ponto de Equilíbrio Econômico,
CF = Custo Fixo,
COp = Custo de Oportunidade
MC = Margem de Contribuição.
Substituindo, temos:
Qe = (1.532,50 + 1.487,50) / 1,47 = 2.055 unidades/mês aproximadamente.
Essa fórmula entrega o resultado em unidades. Se quiser conhecer o valor em reais, basta multiplicar pelo valor de venda do produto.
Isso significa que, para o empreendimento de Ana realmente valer a pena, ela precisa começar a vender acima de 2.054 unidades por mês!
"Como assim, Joice?"
Lembra-se da ideia de "Lucro Aparente" que comentei no post anterior? Não?
É assim:
Vendendo acima de 1043 unidades/mês Ana começa a ter lucro bruto, porém, para realmente o seu negócio valer a pena, ele precisa cobrir o seu Custo de Oportunidade além de seus Custos Fixos, senão, não vale a dor de cabeça de tocar o negócio somente pela troca da remuneração mensal desejada, pois o lucro seria apenas "aparente", não passando de uma sensação, e seu negócio estaria sempre vulnerável, engessado e com a evolução prejudicada.
Observe também que esse volume só está um pouco abaixo do que fora calculado para cobrir duas pessoas com a mesma remuneração se desconsiderássemos o Custo de Oportunidade! Daí o que comumente acontece: "Coloquei um empregado e não vejo mais a cor do dinheiro" ou "Coloquei um empregado e não sobra mais quase nada para mim" ou ainda " Coloquei um empregado e em vez de meu lucro aumentar, diminuiu".
Se você quisesse calcular o Ponto de Equilíbrio (Qe) considerando retorno apenas da Margem de Lucro sobre o Capital Investido nesse negócio, basta substituir nessa fórmula o valor equivalente ao COp (Custo de Oportunidade) pelo valor do Capital Investido, no caso de Ana foi de R$ 684,90.
3 - Fórmula para Calcular o Ponto de Equilíbrio Financeiro (Qf)
Além dos já apresentados, há também o Ponto de Equilíbrio Financeiro (Qf). Esse discrimina as parcelas de Depreciação e Amortização. No caso de Ana, ela só tem Depreciação, mas se ela tivesse feito investimentos usando, por exemplo, empréstimos, financiamentos ou Cartões de Crédito em parcelas, ela teria que considerar as parcelas equivalentes às Amortizações de Dívida também. A fórmula é a seguinte:
Qf = CF- (Dp + A) / MC,
Onde,
Qf = Ponto de Equilíbrio Financeiro
CF = Custo Fixo
Dp = Depreciação
A = Amortização
MC = Margem de Contribuição
Substituindo teremos:
Qf = [1.532,5 - (3,50 + 0)] / 1,47 =
Qf = 1.529/1,47 = 1.040,14
"Ué, Joice, diminuiu?"
Sim. Isso ocorre porque o valor equivalente à parcela de depreciação não sai efetivamente do caixa. Na realidade esse valor já entrou e saiu de vez, e passou a integralizar o Patrimônio Líquido de seu empreendimento em forma de investimentos realizados. Assim, o Q (Ponto de Equilíbrio) diminui diretamente proporcional à soma entre os valores das depreciações somados aos das amortizações a serem abatidos do Custo Fixo usado como referência.
Conclusão
Levando em consideração os reais valores de Ana para a projeção de produção e venda mensal de 1680 unidades/mês, quando firmado esse volume, o negócio de Ana estará dando indícios de um negócio saudável, rentável e realmente promissor, obtendo um lucro bruto equivalente a 637 unidades/mês.
Contabilmente, o lucro desejado nos primeiros momentos do negócio de Ana se dá a partir de 1043 unidades/mês indicadas tanto pela fórmula "A Geralzona" quanto pela específica Qc (Ponto de Equilíbrio Contábil). Isso significa que, para que os valores dela sejam harmônicos e seguros, ela não deve se esforçar para produzir, vender e receber menos do que esse volume por mês.
Já do ponto de vista Econômico, o negócio dela será realmente atrativo quando este estiver negociando um volume mensal equivalente a 2.055 unidades. Por tanto, Ana deverá trabalhar cada vez mais para reduzir seus Custos de Produção quer seja investido em Capacitação, a fim de aprender melhores técnicas e outros produtos que componham seu mix trazendo uma margem maior de retorno, quanto em Maquinário para facilitar o processo produtivo.
Observe que não mencionei acima investimentos em Contratação de Pessoal pois, no início, os Custos Mensais de um Colaborador são muito altos e arriscados para alguém que está começando, ainda mais sem um sólido capital para realizar investimentos e segurar o tranco diante de fortes impactos e prejuízos, ou seja, não tem o famoso "Money to Burn". Assim, por exemplo, investir R$ 2.000,00 numa panela mexedora dividido em 10x sem juros, preferencialmente, pode te dar a força que você precisa em vez de contratar alguém, fora que sai muito mais barato.
Ressalto que não estou dizendo que o microempreendedor não deve contratar, muito pelo contrário. Digo que ele deve sim contratar, porém, quando realmente puder fazer isso. No Brasil, por exemplo, uma parcela representativa das empresas são de Micro e Pequenas Empresas, coisa que circunda os 95% do total segundo o SEBRAE e os Microempreendedores Individuais estão "engrossando esse caldo" com força, já que hoje representam 27% do PIB brasileiro e são, com certeza, a expressão nata do Empreendedorismo nessa "versão pocket" atual.
Considerações Finais
Compreendeu a importância de conhecer com o máximo de certeza e exatidão possíveis os seus números?
Percebeu que não é necessário um enorme conhecimento matemático, basta saber realizar as operações básicas?
Ao longo da Etapa IV de Ana, demonstrei algumas questões reais que normalmente enfrentamos. Fiz isso a fim de quebrar a ideia equivocada que vi se propagar na mídia como se vender brigadeiro fosse equivalente a ter altíssimos lucros. Como podemos inferir, isso não é verdade. Há sim, muito trabalho e alguma remuneração que, dependendo dos seus objetivos e necessidades de vida, irão solucionar questões necessárias e, aos poucos, pode te levar sim a um caso de sucesso, mas não antes de muito, muito, muito e muito trabalho, persistência, dedicação e riscos relevantes.
Além disso, busquei demonstrar que essa mesma linha de raciocínio pode ser adaptada a outros tipos de negócio destacando que o essencial é não perder de foco os números e os desejos dos clientes, pois eles são fundamentais para o seu sucesso seja o que quer que você faça, de sorte que, não saia de sua mente: Todos os Gastos precisam estar alocados devidamente no Preço de Venda e isso inclui TODO esforço de Trabalho que tenha o objetivo de produzir o bem a ser comercializado bem como TODO e QUALQUER recurso empregado para obter o mesmo fim.
O próximo post deverá ser feito do final de dezembro. Seria dia 31/12/17, porém, é provável que eu o antecipe por volta dos dias 28 ou 29. Seja qual for a data, farei uma chamada na página da Oficina no Facebook, ok? Nele irei tratar sobre como fazer duas coisinhas básicas para quem necessitar ou quiser usar: Balanço e DRE (Demonstrativo de Resultados).
Até o próximo post.
Abraço!
Redes Sociais: @oficinadeoficios
Link para pesquisas sobre dados relativos a empreendedorismo:
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT104896-16354,00.html
https://pt.slideshare.net/RafinhaMorawski/ndices-e-estatsticas-sobre-as-micro-e-pequenas-empresas-sebrae
Link para pesquisas sobre dados relativos a empreendedorismo:
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ERT104896-16354,00.html
https://pt.slideshare.net/RafinhaMorawski/ndices-e-estatsticas-sobre-as-micro-e-pequenas-empresas-sebrae
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