Chocolates para Brigadeiro_RECEITAS E DICAS

Olá, pessoal, tudo bem?

Hoje vou falar sobre o Chocolate e sua aplicação ao brigadeiro, qual tipo de chocolate doa textura mais cremosa ao doce e porque prefiro cacau ou chocolate em pó em vez do "em barra" para fazer os docinhos.
Como já expliquei no vídeo, eu pretendia fazer num post só porém, o assunto demonstrou-se mais amplo e rico do que imaginei, assim, fez-se necessário partilhá-lo em 4 partes. Então, esse é o post 1 do assunto Chocolates, Utensílios e Embalagens, dentro do tópico Brigadeiros. O assunto Custo e Preço de Venda pretendo tratar assim que concluirmos esse, pois é um tema que merece um trato específico para ser completo, sucinto e suficiente 😉

Um breve histórico do chocolate

Não é exato se o chocolate foi criado pelos Astecas ou Maias, alguns estudos apontam que originariamente pelos maias, porém estabelecido pelos astecas após os subjugarem. Fato é que em ambas culturas existem registros da presença dessa iguaria.
Inicialmente o chocolate foi tratado por esses povos como "a bebida dos deuses", por causa das propriedades benéficas, em especial a vitalidade e cura, e do sabor forte e característico que a mistura da amêndoa do cacau masserada e água propiciavam, sendo, inclusive, consumida pelo líder desses povos e seus pares. Em alguns registros, há referência de acréscimo de pimenta, farinha de milho e outros condimentos pelos Astecas à bebida! Ou seja, era uma bebida exclusivamente nobre. A importância do cacau era tanta que a amêndoa chegou a servir como moeda intra e intercivilizações nessa região.

Com a chegada dos espanhóis nessa área, eles não demoraram a perceber que estavam diante de algo muito especial. Foram eles que introduziram o hábito de consumir chocolate na europa mas, para tornarem o produto mais apropriado ao paladar europeu, acresceram açúcar, laranja ou anis e canela! Pronto, o primeiro chocolate meio amargo saborizado que tem algo semelhante ao sabor conhecido hoje acabou de nascer porém, era comercializado na forma líquida. Daí em diante italianos, ingleses, holandeses, franceses, suíços, alemães... foram fazendo suas adaptações, até que em 1861, com grande influência holandesa, o chocolate em barra passou a ser comercializado, do tipo amargo. Já em 1876 um suíço desenvolveu uma forma de adicionar leite ao chocolate. Nasce o chocolate ao leite!

Pulando para os dias atuais, existem muitos fabricantes de chocolate, inclusive, graças a Deus, brasileiros. Após um período bastante delicado para os produtores de cacau, em especial, no Brasil, devido ao ataque da vassoura de bruxa, cuja variedade Cacau Bahia foi a mais atingida, a indústria cacaueira brasileira volta a sorrir. Estamos retomando aos poucos nossa capacidade produtiva, e o melhor, após a abertura de nosso mercado aos produtos e investidores estrangeiros, expondo o tamanho e as necessidades de nosso mercado interno, temos atraído o interesse de muita gente que já tinha tradição na produção de chocolate, forçando os produtores nacionais a se adaptarem a esse novo contexto, além, é claro, de chamar a atenção de novos empreendedores brazucas guerreiros e visionários!

Hábitos alimentares e culturais interferem no sabor e textura do chocolate consumido

Nós brasileiros consumimos muito açúcar talvez, não apenas como reflexo de nossas raízes mas, principalmente, por culpa do consumo inconsciente de tudo o que é "moda" ou "estrangeiro". Resultado: a indústria alimentícia faz barba, cabelo e bigode por aqui, entregando por muitos anos produtos ruins, perigosos ou não ideais ao consumo humano. Triste, mas isso pode ser percebido claramente em nossos hábitos alimentares, por exemplo, quantas vezes você acaba consumindo algo porque "todo mundo" está e nem sequer consegue usar seu paladar e consciência para decidir se realmente é bom?

Pois é, por causa do poder de compra, a velha pechincha desvirtuada e dos hábitos culturais de consumo, os produtos "nobres" sofrem concorrência desleal, e acabam restritos a um determinado grupo, fortalecendo aquele velho conceito de produtos com "status", gerando com isso, nichos em determinados segmentos. E, como se pode observar, a indústria alimentícia aproveita isso também... normal.

A questão complica quando produtores artesanais não sabem calcular adequadamente seus custos e assim não mensurarem de forma mais real seus lucros, gerando desvalorização do trabalho e, por tabela, do produto de forma geral, reduzindo seu valor médio de mercado, posicionando-o em uma faixa de preço bastante limitada na mente do cliente.

Como saída, muitos produtores artesanais acabam usando a criatividade e gerando receitas realmente saborosas e lucrativas, com métodos próprios de desenvolverem, cujo aspecto final do produto se torna uma forma de identificação pessoal. Outros, "agregam" valor alegando utilizarem produtos "teoricamente" nobres, porém não são, a fim de justificarem seu preço e garantirem uma melhor margem de retorno. E existe ainda,  aqueles que produzem com matéria prima sem qualidade, comercializando um produto muito aquém do ideal, forçando de forma desleal o preço médio para baixo.

O cliente também tem sua parcela de culpa nesse processo, por desconhecer ou por aceitar esses resultados devido ao preço, que na maioria das vezes, é o grande determinante na hora da aquisição. Nesse caso, o que fabrica com criatividade e lealdade costuma fazer enormes sacrifícios para manter-se competitivo. Mas isso faz parte...

E então, o que fazer???

Você pode estar pensando: " Joice, para fazer brigadeiros eu preciso saber de tudo isso??? Se precisar, desisto..."

Rs calma. Não é determinante saber essas coisas, mas é ideal que você se dedique a desenvolver um senso crítico independente para fugir das armadilhas da indústria alimentícia, criar produtos de qualidade e competitivos, além de ter capacidade de continuar desenvolvendo seu negócio de forma cada vez mais eficiente. Isso não significa que desconhecer tudo isso seja impeditivo para produzir e vender brigadeiros! Antes de tudo é preciso se dedicar e ter boas receitas. Se você não as tem, é preciso pesquisar, testar e testar até encontrar sua identidade nelas e assim, ser capaz de desenvolver suas próprias receitas.

Pronto, você decidiu que vai fazer brigadeiros, não importa a finalidade (consumo, presentear ou vender). Por onde deve começar?

Primeiramente é entender que a qualidade da matéria prima interfere diretamente no resultado final de seu produto e, consequentemente, influencia seu desempenho de vendas, de aceitabilidade, e àquela surpresa gostosa que quem consome tem!

Aí você pode dizer: "Joice, mas os produtos nobres são inviáveis para vender por aqui, porque "o povo não quer pagar mais" (disposição de pagar pelo consumidor)".

Entendo muito bem o que é isso. Você até tem vontade de investir mais, quando é o caso, mas não tem mercado suficiente (gente disposta a pagar por ele) para o produto na faixa de preço que ele vai ficar. Nesse ponto é que entra o perfil empreendedor.

Assim, se você estiver partindo do ponto zero (não tem receita nem clientes) ou tem receita mas não tem clientes, você vai precisar gastar para conquistar esses clientes ("não diga!" Rs). Entenda gastar desde "sola de sapato" a investimentos, como:
- sola de sapato, tanto para vender quanto para pesquisar os melhores preços e canais de aquisição;
Investimentos em:
- internet, para pesquisar com mais amplitude as possibilidades aplicáveis ao produto e divulgação;
- conhecimento, sim, é preciso estudar o produto, as matérias primas, e como administrar seu negócio;
- dinheiro, não apenas para fabricar e vender, mas também para testar receitas e ideias;
E, se tiver como:
- mais dinheiro para divulgar seu produto, quer seja naquele cartãozinho entregue, quer investido em embalagens mais atrativas, bem como, quando estiver mais estabelecido (se não puder investir inicialmente) em identidade visual e,
- principalmente, tempo para conseguir realizar tudo isso!
Cabe aqui também três itens preciosos: Paciência, resiliência e a prática de ouvir seu público alvo.

Com exceção do comprometimento, dos investimentos e gastos financeiros que você vai precisar dispor para iniciar seu negócio, pretendo te economizar todo o resto para que você tenha um início mais confortável que eu 😊.
Vamos lá?

Tipos de chocolate e a escala pH

Uma das principais dúvidas para quem começa a produzir brigadeiros é qual chocolate utilizar. Para você entender com clareza porque eu prefiro cacau e chocolate em pó, preciso pincelar sobre a escala pH.

"Joice, que raios é isso?"

É uma escala que identifica a concentração de íons de hidrogênio de determinada substância em solução aquosa, desenvolvida por um cientista dinamarquês. Ela determina que as substâncias podem ser ácidas, neutras ou bases (alcalinas). Quando são bases, elas funcionam como "bloqueadores" à substâncias ácidas. A reação química entre uma substância alcalina e uma ácida gera um sal. Mas o que isso tem a ver com o chocolate?

A escala pH é medida de 0 a 14 (podem ser corrosivas se localizadas em ambas extremidades, ou próximo a elas). Quando a substância está em 7, significa que é neutra (nem ácida nem alcalina). A potência medida entre as casas obtém-se multiplicando por 10x. Ou seja, entre a casa 6 e 7, a potência significa 10x mais ácido ou alcalino. Já entre 6 e 8, 100x. Antes de 7 é ácida e depois é alcalina. De 6 a 8, existe uma "tolerância" como neutra.

O pH natural do chocolate gira em 6. Quando ele passa por um processo de alcalinização ele muda de cor, de capacidade de dissolução (tende a ficar mais solúvel), ganha um pequeno acréscimo em sua composição de substâncias alcalinizantes e altera o sabor, adotando uma nova localização nessa escala, sendo: 7 , o chocolate alcalino  "suave", e 8 o chocolate alcalino "mais forte" - "dark". O chocolate alcalino é conhecido por dutch.

O chocolate "natural" (que não passou pelo processo químico de adição de substâncias alcalinizantes), possui um sabor mais frutal, mais próximo ao estado do cacau torrado, possui uma cor de barro seco e, dependendo da espécie e da origem do cacau, um barro "marrom ou levemente alaranjado ou avermelhado". O chocolate alcalino "suave" (ph 7), perde um pouco o sabor natural, fica com um leve sabor caramelo (sabe aquela bala de caramelo da embaré? Então, aquele sabor no fundo), fica um pouco mais escuro e "aceita com mais facilidade" outros sabores. Já o alcalino "dark", tem uma coloração mais escura, própria do processo mais "forte" de alcalinização, um sabor mais marcante que o suave, com traços que lembram biscoito "negresco"... e para mim, xarope.

É nesse ponto que discordo da maioria dos pesquisadores e a indústria alimentícia quanto aos resultados da utilização do cacau e chocolate alcalinos à fabricação de brigadeiros e outros produtos. Os resultados que obtive foram melhores com os naturais, pois, pelo fato de não terem passado pelos acréscimos "mínimos" de substâncias alcalinizantes, são livres das "interferências" destas, além disso, fez a receita tender para um equilíbrio, provavelmente por pequenas reações entre os ingredientes mais ácidos (chocolate natural) e os alcalinos (margarina ou manteiga), gerando um produto que não provocava azia (por nem estar erradamente ácido nem erradamente alcalino), e isso era facilmente percebido tanto pelos elogios, quanto pela durabilidade e, quando eu abria a bandeja, exalava o aroma marcante e gostoso de chocolate, além da textura leve e sabor de chocolate mais esperado. Já os alcalinos, além de doarem sabor mais artificial com fundo variando entre caramelo e bolo industrializado, se forte, doa coloração de reflexo azulado.

"Joice, então você está dizendo que não devo usar cacau e/ou chocolate em pó alcalinos???"

Não é isso. Estou dizendo que, no caso do brigadeiro, usando cacau ou chocolate em pó de boa procedência, o sabor de chocolate ressaiu mais e me deu um resultado melhor do que um alcalino, me permitindo obter um sabor de chocolate "mais com gosto de chocolate", enquanto um alcalino doou aroma e traços mais caramelizados, um perfume menor e menos persistente, no caso do dutch "suave". No caso do dutch "dark", um gosto com um fundo mais marcante, cheiro mais forte, porém um fundo artificial de "xarope" e até "refletindo" um tom azulado.  Em ambos os dutchs, sem acrescer creme de leite, o sabor de açúcar do leite condensado ressaiu mais e permaneceu "no fundo" um gostinho artificial. Ou seja, você pode utilizar um cacau ou chocolate alcalino, mas o resultado não será o mesmo. Vai ficar bom, mas não igual.

Porém, na confeitaria, os alcalinos têm suas aplicações e indicações, no meu caso, para brigadeiros, alcancei melhores resultados com os naturais. Um especialista em chocolates (Chocolatier) vai saber fazer a dosagem adequada de alcalinizante, como bicabornato de sódio por exemplo, ao chocolate natural quando necessário, não precisando usar a "facilidade" do alcalino "já pronto".

Um adendo importante

Lembra-se do que falei sobre "armadilhas" da indústria alimentícia? Pois é... não que a "gourmetização" seja de todo ruim. Não o é. É mais uma "jogada" de marketing que a "Dra Indústria Alimentícia" introduziu para diferenciar produtos, agregando valor, dando a sensação de "especialidade" e assim, poder cobrar mais. Porém, esse "movimento" possibilitou o fortalecimento do mercado daqueles produtores e produtos que estavam "esfacelados" pela pressão da desvalorização que mencionei lá em cima, e permitiu com isso que bons profissionais se posicionassem ou reposicionassem no mercado de forma mais merecida, porém, como um cubo possui vários ângulos, a desvirtuação provocada por esse movimento é perigosa porque, diante do hábito de valorizar o que "acha que é chique e superior", o brasileiro pode cair no erro de entender, baseado em conceitos "comprados e pré-formados", que só é bom se for "belga" ou importado, e com isso, desmerecendo bons produtores nacionais que, inclusive, já conquistaram selo de origem em seus produtos, e se ainda não o conquistaram ou não é o caso, não se deixam a desejar. Por exemplo, as marcas brasileiras Espírito Cacau, a linha Unique da Harald, Sagarana, Costa Negro, Bebette, Mendoá, Chor, Nugali, AMMA (todos já são encontrados com alguma facilidade no mercado geral, inclusive no capixaba!)... e outros produtores menores que estão buscando seus espaços, abrindo mercado no âmbito nacional via casas especializadas ou "naturais", ou estão sendo, literalmente, caçados por compradores gringos e nacionais.

Observem que frisei bastante o "deixar seu produto com qualidade e competitivo" no vídeo anterior (Brigadeiro de Churros).

Além disso, considerando cacau e chocolate em pó, e chocolate barra "não nobre", entre Garoto e outras marcas, como SICAO (marca de chocolate secundária da Barry Callebaut instalada no Brasil, desenvolvida para nosso mercado, portanto é chocolate brasileiro produzido por uma empresa belgo-suíça), prefiro Garoto. Entre Garoto e os nobres da Barry Callebaut e Callebaut, por exemplo, aí depende. Depende do resultado que desejo obter, do segmento ou nicho de mercado que desejo atingir e o potencial de demanda para ele. Um maior investimento vai exigir que o giro do estoque dessa matéria prima seja satisfatório, além do preço de venda bem recebido, senão, é um valor muito alto para ficar "imobilizado" correndo risco de estragar. Citei Barry Callebaut e Callebaut mas poderia servir como exemplo quaisquer outras marcas de chocolate nobre, inclusive brasileiro.

O preço médio no mercado por quilo do Cacau em Pó da Garoto 100 % gira em torno de R$ 85,00, o Extra Brute R$80,00, e o Plein Arôme R$ 70,00, ambos 100% da Barry Callebaut. Ou seja, nesse caso é preferência diante do resultado obtido junto aos clientes, porém, os belgo-suíços apresentam uma coloração mais intensa, que tanto podem indicar serem produtos de cacau vermelho como também alcalinizados, porém de sabores agradáveis. Hoje em dia são achados com facilidade no mercado capixaba, inclusive fracionados em porções menores.

Quanto ao Chocolate em Pó da Garoto, circunda R$ 60,00 por quilo e o da Barry também, porém, enquanto o da garoto concentra 50% de cacau, o da Barry traz 31,7% em sua composição, que vai alterar o resultado final em doçura, aroma e textura do brigadeiro. Quanto ao SICAO, tem 100% ( R$20,00), 50% (R$ 9,00) e 33% (7,00), vendidos em embalagens de 300g, porém são alcalinos e doam aquele fundinho que mencionei. Ficam bons mas, prefiro os naturais. Não mencionei outras marcas de cacau e chocolate em pó, porque as disponíveis com facilidade e mesma faixa de preço no mercado, não encontrei resultados parecidos aos que obtive com os produtos que uso.

Outra coisa, se eu tiver de escolher entre o cacau ou chocolate em pó alcalinos, não de origem, da Barry Callebaut e o naturais da Garoto, para fazer brigadeiros, opto pelo Garoto por causa dos aroma e sabor mais próximos do nosso paladar!

Atenção para não confundir a linha Callebaut com as linha Barry ou SICAO  todas as três marcas da Barry Callebaut (Fusão entre a suíça Barry e a belga Callebaut). E olhe que falo em Barry e Callebaut (as linhas nobres e complementares entre si do mesmo fabricante) porque, entre essas marcas internacionais destacáveis nesse segmento, até então, são as únicas que vieram fortes e focadas para o nosso mercado, tendo a Barry Callebaut se instalado no Brasil, sendo atualmente encontrada em muitas lojas de artigos de festa, chocolates e afins aqui no Brasil e no ES.

Por que uso cacau e chocolate em pó preferencialmente para fazer brigadeiros?

Cada processo de produção de cacau e chocolate preserva um determinado percentual de gordura e umidade. Os chocolates em barra possuem um acréscimo muito expressivo de "materiais gordurosos" além do açúcar, no caso dos nobres.  No caso dos "não nobres", há também a inclusão de aromatizantes, corantes, óleos e gorduras vegetais, além do que se deve encontrar no chocolate considerado nobre. Observe que existem chocolates que se classificam nobres e possuem acréscimo de aromatizantes. Quando o chocolate é ao leite, existe acréscimo de um "estabilizante", normalmente a lecitina de soja, com o objetivo de "facilitar a aceitação" do leite pela manteiga do cacau, presente em grande volume nesse tipo de produto.

Já o cacau e o chocolate em pó possuem uma menor concentração de manteiga de cacau em comparação aos "em barra" e, dependendo do processo de fabricação (fabricante), não possuem "acréscimos extras", uma vez que cacau em pó deve ser apenas cacau, quando natural e, no caso do chocolate em pó, são acrescidos açúcar e leite ou derivados. Isso significa que usar o "em pó" deixa o brigadeiro mais macio, cremoso e vai demorar um pouco mais para "cristalizar", uma vez que é a presença da manteiga de cacau e, se for o caso, demais óleos e gorduras vegetais, que acabam dando esse "peso", essa sensação de mais "macilento", isso quando não acrescentam farinhas justificando "segredo de confeitaria".

Enfim, eu só havia desenvolvido um sabor com chocolate em estado sólido (Tâmaras com castanha de cajú e farofa de nozes - receita autoral), e adaptei o de Brigadeiro Branco reduzindo a quantidade de chocolate em barra numa proporção que mantenha o sabor e aumente sua "leveza", característica de meus brigadeiros.

Eu prefiro os cacau e chocolate em pó naturais, por causa de seus aromas. Apesar de muitos afirmarem que o dutch mais escuro, que chamo de "dark", ser mais "perfumoso", constatei no caso dos brigadeiros, que os naturais além de conservarem o cheiro e o sabor mais convidativos, demonstraram que, depois de prontos, exalaram um sabor mais característico ao esperado e mais gravado em nossa memória brasileira como chocolate. Isso era facilmente percebido não só quando abria as bandejas cheias mas todas as vezes, até o último docinho, o cheiro fixava no recipiente e arrebatava meus fregueses. Essa opção interfere, inclusive, na qualidade da massa pós congelamento.

Concentração de cacau, manteiga (gordura natural do cacau) e umidade

Outro ponto que não pode ser esquecido é referente à composição da matéria prima que você vai utilizar. Assim, seguem as definições e aplicações sugeridas:

- Cacau em pó: é "basicamente" a amêndoa do cacau processada até obter um pó bem fino, de sabor amargoso e cheiro marcante de cacau. A coloração varia levemente entre tons de barro seco  dependendo da espécie, origem e processamento, mesmo quando natural. É encontrado nas versões natural e alcalino, comumente identificado na embalagem como 100% cacau.

- Chocolate em pó: é um composto de "teoricamente" poucos ingredientes  sendo, cacau em pó (se indicar solúvel, pode significar que este cacau passou por um processo de alcalinização), açúcar e leite, alguns podem adicionar estabilizantes, aromatizantes e corantes. Eu prefiro o mais natural e com o mínimo de misturas possível dentro de uma faixa de preço que mantenha meu produto competitivo, com excelente qualidade e sabor.

Tem fabricante que expressa na embalagem se trata-se de um chocolate alcalino, quando não vem discriminado, pode ser natural, e também indica quanto de seu total é composto por cacau em pó (32%, 50%, 60%, 70%...). Além disso, calha de apontarem a concentração de gordura (considerando apenas manteiga de cacau para os nobres), se 22, 24 ... por cento. Outro item que costumam indicar é a umidade do produto. Normalmente o produto de cacau usado na confeitaria tem sua umidade entre 10 e 15%. Quanto maior a concentração de cacau, mais caro tende a ser o produto, inclusive entre os nobres, cujas origem e processos também influenciam determinantemente no preço de venda final.

A legislação brasileira impõe que para ser considerado "chocolate" deve, no mínimo, sua composição ter 25% de cacau. Abaixo disso, é considerado "cobertura" para os "em barra", e "achocolatado" para os "em pó". Alguns chocolatiers consideram apenas chocolates os que contém em sua composição à partir de 32% de cacau, como determinava o decreto-lei de n 12/78, atualmente substituída pela RDC n 264, de 22 de setembro de 2005, emitida pela ANVISA.

A mesma legislação também limita a possibilidade de "acréscimos extras" à composição do chocolate (aos considerados "não nobres") de 5% do total composto, permitindo ser de óleos e gorduras vegetais (prática essa condenada pelos chocolatiers mais exigentes), além do estabilizante normalmente empregado (a lecitina de soja) para reduzir a tensão entre o leite, a manteiga de cacau e, se for o caso, as demais gorduras, a fim de facilitar sua homogenização.

"Tá, depois de tudo isso Joice, qual a concentração de cacau deve ter o chocolate indicado para eu fazer meu brigadeiro???"

Depende! Depende do sabor e da textura que você deseja obter. Se você quer fazer aquele tradicionalzão, comumente feito com "achocolatado" (se você já faz brigadeiro e usa Nescau, Toddy e etc, experimente usar chocolate de verdade, sua clientela vai agradecer!), um chocolate com 32% de cacau vai dar um bom resultado se o público alvo preferir um brigadeiro mais docinho, por exemplo, crianças e adolescentes, normalmente. Se você quer acertar diferentes faixas, o 50% cacau vai atingir bem seu objetivo. Agora, se você quiser produzir aquele que lembra chocolate meio amargo, invista em Cacau em Pó natural 😉

Próximo post será sobre utensílios usados para produzir brigadeiros

Quando comecei a produzir brigadeiros escolhi as matérias primas por instinto, baseando-me em produtos que eu já conhecia e comprava facilmente em mercados. À medida que conquistei mais e mais clientes, fui recebendo feedbacks ("opinões de retorno") que apontavam a "especialidade" de meu docinho em várias comparações do tipo:
"Olha, já comi bons brigadeiros, mas não como o seu",
"Agora vou às festas, quando tem brigadeiro e vou comer, mordo e logo penso: Não é o brigadeiro da Joice 😔"

Gostoso ouvir isso, né?

Assim que essas observações começaram a ocorrer de forma mais constante, comecei a pesquisar o porquê. Foi aí que encontrei a resposta, a razão que transcende ao modo de fazer: os produtos e as proporções que uso!

"Mas Joice, eles são bem comuns..."

Sim, são. Porém, prefiro o melhor leite condensado (acreditem, a qualidade deles segue o mesmo conceito aplicado a vinhos, cafés e chocolates!), um bom leite integral, uma margarina que não é muito rica em lipídeos (que não forma aquelas placas de gordura branca quando aquecida, sabe?) ou manteiga ( não gosto da manteiga porque, ao meu paladar, seus aroma e gosto interferem no chocolate. Não uso manteiga de cacau porque ela "cristaliza"), e um cacau em pó natural ou, se for o caso, um chocolate em pó que acredito ser natural ou com baixa alcalinização.

Assim, garanto que se você quiser começar a produzir brigadeiros e fizer minhas receitas, usando os mesmos produtos, fazendo do jeitinho que estou ensinando, vai marcar "gools de placa"! Pelo menos até, se for o caso, você passe a apostar em cacau e chocolates nobres de origem em suas próprias receitas e modo de fazer.

Se você já faz e quiser testar as minhas, você pode se surpreender 😊😉

Só não esqueça de uma coisa: entre os produtos nacionais existe uma gama de produtos "mara", inclusive nobres e de origem. Nossos "desbravadores" estão arrasando, dando shows pelos Salões de Chocolate" mundo à fora... uma coisa verdadeiramente linda de se ver 😍. Ademais, geram riqueza e empregos para a nossa sofrida e irresponsavelmente gerida economia. "Vamo fortalecer a corrente, pô!", mas sem abrir mão da crítica independente, responsável, leal e comprometida de entregar o melhor ao nossos clientes, dando o devido reconhecimento a quem de direito.

O "Mundo do Chocolate" é deliciosamente atraente, envolvente e inovador, em especial, no tocante aos brigadeiros, também é. Você não precisa se aprofundar, mas é recomendável que o faça. No mais, deixo a máxima:
Menos marcas e mais sabor!

Como já "falei", no próximo post tratarei de utensílios voltados para brigadeiros. Aguarde!

Para você que ainda não me conhece, me acompanhe nas redes sociais: @oficinadeoficios
No face, rolam bastidores, sorteios e comunicações rápidas;
No Insta, fotinhos e chamadinhas,
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Forte Abraço.

Obrigada!

Até 😘

Obs.: Quando o pc voltar a funcionar, carrego, assim que possível, as fotos que separei para esse post e as demais fontes de pesquisa que usei na internet e o vídeo. 😔

Fontes:

Experiências pessoais

Pesquisa aplicada

ANVISA_RDC n 264 de setembro de 2005

http://www.dinheirorural.com.br/secao/capa/aposta-no-chocolate-de-luxo

https://www.cacaochocolade.nl/main.php?lng=5&p=inhoud&h=5&g=1&s=5&z=0&sp=

http://www.icouldkillfordessert.com.br/sem-categoria/variedades-do-cacau-onde-comeca-o-sabor-do-chocolate/

http://www.crq4.org.br/quimica_viva__a_quimica_do_chocolate_

E outras disponíveis na internet

Comentários

  1. Olá Joice.
    Estou inscrito no seu canal e agora estou tentando acompanhar, (e aprender)
    todas estas informações. Vou começar a partir daqui.
    Moro em Linhares, estou desempregado e procuro uma fonte de renda para pagar o aluguel...
    Aqui vendem trufas (bombom trufado e cone trufado). Bombom caseiro (não sei se é o mesmo que trufa) e brigadeiro eu ainda não vi sendo oferecido para as pessoas no centro e nas lojas.
    Com a crise tem vendedores aos montes por aqui, e estão vendendo de tudo um pouco.
    Eu não quero ser mais um, mas com a grana curta não posso me dar ao luxo de testar tipos de alimentos doces ou salgados e me parece que vendedores de chocolate são poucos e de brigadeiro menos ainda (digo sobre aqueles que entram nas lojas sabe? Que é o que eu pretendo fazer).
    Chocolate em pó eu só achei da Sacau 50%.
    Comprei também uma lata de leite moça. (moça mesmo)
    Margarina qualy que não tinha e o leite eu já tinha.
    Eu não tenho balança então foi no copo de medidas mesmo.
    Se ficar do meu agrado amanhã eu compro as forminhas rs.
    Abraços.

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